Métodos e Técnicas
A Ergonomia utiliza
métodos e técnicas científicas para observar o trabalho humano.
A estratégia utilizada pela Ergonomia
para apreender a complexidade do trabalho é decompor a atividade
em indicadores observáveis (postura, exploração visual, deslocamento).
A partir dos resultados iniciais
obtidos e validados com os operadores, chega-se a uma síntese
que permite explicar a inter-relação de vários condicionantes
à situação de trabalho.
Como em todo processo científico
de investigação, a espinha dorsal de uma intervenção ergonômica
é a formulação de hipóteses.
Segundo LEPLAT "o pesquisador
trabalha em geral a partir de uma hipótese, é isso que lhe permite
ordenar os fatos". São as hipóteses que darão o status
científico aos métodos de observação nas atividades do homem
no trabalho.
A organização das observações em
uma situação real de trabalho é feita em função das hipóteses
que guiam a análise, mas também, segundo GUERIN (1991), em função
das imposições práticas ou das facilidades de cada situação
de trabalho.
Os comportamentos manifestáveis
do homem são freqüentemente observáveis pelos ergonomistas,
como por exemplo:
Os deslocamentos dos operadores
- esses podem ser registrados a partir do acompanhamento dos
percursos realizados pelo operador em sua jornada de trabalho.
O registro do deslocamento pode explicar a importância de outras
áreas de trabalho e zonas adjacentes. Exemplo; em uma sala de
controle o deslocamento dos operadores até os painéis de controle
está relacionado à exploração de certas informações visuais
que são fundamentais para o controle de processo; o deslocamento
até outros colegas pode esclarecer as trocas de comunicações
necessárias ao trabalho.
Técnicas
utilizadas na análise do trabalho
Pode-se agrupar as técnicas utilizadas
em Ergonomia em técnicas objetivas e subjetivas.
• Técnicas objetivas ou diretas: - Registro das atividades ao longo de um período, por exemplo, através de um registro em video. Essas técnicas impõem uma etapa importante de tratamento de dados.
• Técnicas subjetivas ou indiretas:- Técnicas que tratam do discurso do operador, são os questionários, os check-lists e as entrevistas. Esse tipo de coleta de dados pode levar a distorções da situação real de trabalho, se considerada uma apreciação subjetiva. Entretanto, esses podem fornecer uma gama de dados que favoreçam uma análise preliminar.
Deve-se considerar que essas técnicas são
aplicadas segundo um plano preestabelecido de intervenção
em campo, com um dimensionamento da amostra a ser considerado
em função dos problemas abordados.
Métodos diretos
Observação
É o método mais utilizado em Ergonomia
pois permite abordar de maneira global a atividade no trabalho.
A partir da estruturação das grandes
classes de problemas a serem observados, o Ergonomista dirige
suas observações e faz uma filtragem seletiva das informações
disponíveis.
Observação assistida
Inicialmente considera-se uma ficha
de observação, construída a partir de uma primeira fase de observação
"aberta".
A utilização de uma ficha de registro
permite tratar estatisticamente os dados recolhidos; as freqüências
de utilização, as transições entre atividades, a evolução temporal
das atividades.
Em um segundo nível utiliza-se
os meios automáticos de registro, áudio e video.
O registro em video é interessante
à medida que libera o pesquisador da tomada incessante de dados,
que são, inevitavelmente, incompletos, e permite a fusão entre
os comportamentos verbais, posturais e outros. O video pode
ser um elemento importante na análise do trabalho, mas os registros
devem poder ser sempre explicados pelos resultados da observação
paralela dos pesquisadores.
Os registros em video permitem
recuperar inúmeras informações interessantes nos processos de
validação dos dados pelos operadores. Essa técnica, entretanto,
está relacionada a uma etapa importante de tratamento de dados,
assim como de toda preparação inicial para a coleta de dados
(ambientação dos operadores), e uma filtragem dos períodos observáveis
e dos operadores que participarão dos registros.
Alguns indicadores podem ser observados
para melhor estudo da situação de trabalho (postura, exploração
visual, deslocamentos etc).
Direção do olhar
A posição da cabeça e orientação
dos olhos do indivíduo permite inferir para onde esse está olhando.
O registro da direção do olhar
é amplamente utilizado em Ergonomia para apreciação das fontes
de informações utilizadas pelos operadores. As observações da
direção do olhar podem ser utilizadas como indicador da solicitação
visual da tarefa.
O número e a frequência das informações
observadas em um painel de controle na troca de petróleo em
uma refinaria, por exemplo, indicam as estratégias que estão
sendo utilizadas pelos operadores na detecção de presença de
água no petróleo, para planejar sua ação futura.
Comunicações
A troca de informação entre indivíduos
no trabalho podem ter diversas formas: verbais, por intermédio
de telefones, documentais e através de gestos.
O conteúdo das informações trocadas
tem se revelado como grande fonte entre operadores, esclarecedora
da aprendizagem no trabalho, da competência das pessoas, da
importância e contribuição do conhecimento diferenciado de cada
um na resolução de incidentes.
O registro do conteúdo das comunicações
em um estudo de caso no Setor Petroquímico da Refinaria Alberto
Pasqualini, Canoas - RS, mostrou a importância da checagem das
informações fornecidas pelos automatismos e pelas pessoas envolvidas
no trabalho, através de inúmeras confirmações solicitadas pelos
operadores do painel de controle.
O conteúdo das comunicações pode,
além de permitir uma quantificação de fontes de informações
e interlocutores privilegiados, revelar os aspectos coletivos
do trabalho.
Posturas
As posturas constituem um reflexo
de uma série de imposições da atividade a ser realizada. A postura
é um suporte à atividade gestual do trabalho e um suporte às
informações obtidas visualmente. A postura é influenciada pelas
características antropométricas do operador e características
formais e dimensionais dos postos de trabalho.
No trabalho em salas de controle,
a postura é condicionada à oscilação do volume de trabalho.
Em períodos monótonos a alternância postural servirá como escape
à monotonia e reduzirá a fadiga do operador. Em períodos perturbados
a postura será condicionada pela exploração visual que passa
a ser o pivô da atividade. Os segmentos corporais acompanharão
a exploração visual e excutarão os gestos.
Estudo de traços
A análise é centralizada no resultado
da atividade e não mais na própria atividade. Ela permite confrontar
os resultados técnicos esperados e os resultados reais.
Os dados levantados em diferentes
fases do trabalho podem dar indicação sobre os custos humanos
no trabalho mas, entretanto, não conseguem explicar o processo
cognitivo necessário à execução da atividade. O estudo de traços
pode ser considerado como complemento e é usado, com freqüência,
nas primeiras fases da análise do trabalho. O estudo de traços
pode ser fundamental no quadro metodológico para análise dos
erros.
Métodos subjetivos
O questionário é pouco utilizado
em Ergonomia pois requer um número importante de operadores.
Entretanto a aplicação de questionário em um grupo restrito
de pessoas pode ser utilizada para hierarquizar um certo número
de questões a serem tratadas em uma análise aprofundada.
As respostas dos questionários
podem ser úteis para a contribuição de uma classificação de
tarefas e de postos de trabalho. O questionário, entretanto,
deve respeitar a amostra e as probabilidades de aplicação.
Deve-se ressaltar que com o questionário
se obtém as opiniões, as atitudes em relação aos objetos, e
que elas não permitem acesso ao comportamento real.
Segundo PAVARD & VLADIS (1985),
o questionário é um método fácil e se presta ao tratamento estatístico,
e, se corretamente utilizado, permite coletar um certo número
de informações pertinentes para o Ergonomista.
Tabelas de avaliação
Esse tipo de questionário permite
aos operadores avaliarem, eles mesmos, o sistema que utilizam.
O objetivo é apontar os pontos fracos e fortes dos produtos.
No caso de avaliação de programas, uma tabela de avaliação deve
cobrir os aspectos funcionais e conversacionais.
Entrevistas e verbalizações
provocadas
A consideração do discurso do operador
é uma fonte de dados indispensável à Ergonomia. A linguagem,
segundo MONTMOLLIN (1984), é a expressão direta dos processos
cognitivos utilizados pelo operador para realizar uma tarefa.
A entrevista pode ser consecutiva
à realização da tarefa (pede-se ao operador para explicar o
que ele faz, como ele faz e por que).
Entrevistas e verbalizações
simultâneas
As entrevistas podem ser realizadas
simultaneamente à observação dos operadores trabalhando em situação
real ou em simulação.
A análise se concentra nas questões
sobre a natureza dos dados levantados, sobre as razões que motivaram
certas decisões e sobre as estratégias utilizadas.
Dessa maneira o Ergonomista revela
a significação que os operadores tem do seu próprio comportamento.
As verbalizações devem ser aplicadas com cuidado e de maneira
a não alterar a atividade real de trabalho.
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